CAMINHOS QUE NOS LEVAM AO CRESCIMENTO

CAMINHOS QUE NOS LEVAM AO CRESCIMENTO

Compreender os nossos sentimentos e comportamentos:
Atuamos de forma mais equilibrada e madura no palco da vida quando conhecemos a nós mesmos, quando buscamos a compreensão dos nossos sentimentos e buscamos compreender a razão dos nossos comportamentos.

Desenvolver a competência emocional:
Desenvolver a competência emocional é desenvolver a capacidade de enfrentar as adversidades de forma equilibrada, com maturidade e serenidade.

Desenvolver a proatividade:
Desenvolver atitudes proativas é desenvolver a capacidade de direcionar os comportamentos balizando-se nas próprias decisões e experiências, e não em condições ou atitudes externas.

Desenvolver a auto-estima:
Desenvolver a auto-estima é adquirir a crença em si mesmo, é acreditar que é capaz de enfrentar as dificuldades com sucesso.

Desenvolver atitudes resilientes:
Desenvolver atitudes resilientes é adquirir a capacidade de enfrentar as adversidades com controle emocional, de sempre encontrar uma saída para essas adversidades e de não se deixar vencer por elas.

Aproveitar os potenciais:
Aproveitar os potenciais é buscar meios de colocar em prática efetiva os conhecimentos e as habilidades que dispomos e adquirimos.

Mudar comportamentos:
Compreender que só podemos provocar mudanças em nossas vidas, mudando nossos comportamentos e atitudes.

Assumir a responsabilidade pela própria vida:
Compreender que somos responsáveis diretos pela construção do nosso caminho, e que o nosso destino depende das nossas escolhas.

Gilson Tavares (psicanalista e educador)
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PENSAMENTOS QUE FAZEM A DIFERENÇA

PENSAMENTOS ( E SENTIMENTOS ) QUE FAZEM A DIFERENÇA

Posso discordar da idéia do outro sem precisar discordar do outro.

Estar certo não implica necessariamente que o outro esteja errado.

Alguém tem que tomar a iniciativa, por que não eu ?

Enxergamos melhor a situação quando olhamos pelo olhar do outro.

Não é o outro que me incomoda, sou eu que me deixo incomodar.

Por que alguém tem que ser culpado ?

Eu fiz o meu melhor ?

Haverá um dia em que questionaremos nossas escolhas e ações, e seja qual for o caminho que tenhamos escolhido, sempre haverá lágrimas e sorrisos. O que irá realmente fazer a diferença e trazer alívio para a alma, será sabermos que fizemos o melhor que podíamos ter feito.

Gilson Tavares (psicanalista e educador)
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A DIFÍCIL ARTE DE CONVIVER

A DIFÍCIL (MAS NECESSÁRIA) ARTE DE CONVIVER (VIVER EM COMUM)

Quanto mais sabemos sobre o comportamento alheio, melhor compreendemos a nós mesmos. (Skinner)

Na concepção de Vygotsky, educador russo, todo ser humano se constitui um “ser” pelas relações que estabelece com os outros seres humanos. E, talvez, o maior desafio no relacionamento com o outro não seja a compreensão do outro, mas a compreensão de si mesmo.

No trato com o outro, precisamos, ao mesmo tempo, ter a noção de que lidamos com alguém diferente de nós, com uma história de vida diferente da nossa, com expectativas diferentes das nossas, mas que também, sente como nós, ama como nós e tem sonhos como nós.

O ser humano tem um mundo interior tão rico em representação simbólica, que o que determina a forma dele agir e interagir diante do mundo externo é a forma como ele interpreta esse mundo externo, balizado pelas suas representações interiores.

Na interpretação da sua interação com o mundo exterior, e da sua relação com o outro, o ser humano se depara com um outro ser ao mesmo tempo tão igual e tão diferente dele mesmo, precisando aprender a lidar com todo o conflito gerado pelas identificações que faz com esse outro e pelos sentimentos escondidos nos recantos mais sombrios da alma, e que são despertados nessa relação com o outro.

Mais do que servirem para destacar as diferenças entre cada ser e a impossibilidade de se tornarem seres iguais, e assim incapazes de conviverem, os conflitos gerados na relação com o outro podem, e devem, ser aproveitados como ferramentas de transformação e como oportunidades de auto-conhecimento e crescimento pessoal.

Para que os conflitos se convertam em ferramentas de transformação, algumas palavras precisam ser incluídas de forma sublinhada e negritada em nosso vocabulário, entre elas: a tolerância; a flexibilidade; o perdão; a aceitação do outro como um ser imperfeito, aliais, reconhecer que também não somos perfeitos; aprender a enxergar verdadeiramente o Outro, e não apenas o que nos incomoda no outro; enxergar além das divergências; aprender que, na maioria das vezes, as pessoas erram na tentativa de acertarem; aprender a Escutar o outro; aprender que podemos discordar das opiniões sem precisar discordar das pessoas, e que também, podemos aceitar a opinião do outro, sem a necessidade de nos sentirmos diminuídos por isso; aprender que nem sempre é necessário encontrar um culpado; aprender que só podemos mudar o outro buscando a nossa mudança primeiro.

Podemos ceder à tentação do caminho mais fácil ... ou aceitar o desafio da superação, mas sempre sabedores de que somos seres sempre em construção, e que o único caminho que temos para desenvolver a inteligência emocional é praticando.


A sabedoria superior tolera; a inferior julga; a superior alivia, a inferior culpa; a superior perdoa; a inferior condena. (Augusto Cury)

Gilson Tavares (psicanalista e educador)
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COMPREENDENDO O PROCESSO DO APRENDER – parte 2/2

COMPREENDENDO O PROCESSO DO APRENDER – parte 2/2

Uma visão neurobiológica, psicológica e pedagógica do processo de apreensão do conhecimento

Gilson Tavares – Psicanalista e educador
gilsontavares_psi@yahoo.com.br)

Vygotsky diz que, quando se avalia o nível de desenvolvimento de uma criança ou adolescente, procura-se, geralmente, identificar as capacidades e as competências já adquiridas por eles e identificar a capacidade do sujeito para realizar tarefas e adquirir novos conhecimentos com a ajuda do outro. O intervalo compreendido entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial constitui o que ele chamou de zona de desenvolvimento proximal. A zona de desenvolvimento proximal traduz o espaço cognitivo no qual o sujeito, sozinho, se vê impossibilitado de adquirir certos conceitos, resolver problemas ou realizar determinadas tarefas, mas que, interativamente, com o apoio de outro, vence tais desafios cognitivos, e ao mesmo tempo, internaliza o funcionamento psíquico necessário para tal.
Na obra de Vygotsky, a análise do sujeito não se limita a ordem do biológico e nem se localiza na ordem do abstrato, mas sim ao sujeito que é constituído e é constituinte de relações sociais. Neste sentido, o homem sintetiza o conjunto das relações sociais e as constrói.
Ao ler Vygostsky, observa-se que o aprendizado está relacionado ao desenvolvimento e é, "um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas" (OLIVEIRA, 1993 – p. 33). É o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento que, não fosse o contato do indivíduo com certo ambiente cultural, não ocorreriam.
Os seres humanos nascem mergulhados em cultura, e esta será uma das principais influencias no seu desenvolvimento. Embora ainda haja discordâncias teóricas entre as diversas abordagens, o contexto cultural é o palco das principais transformações e evoluções do bebê humano ao idoso.
Para Piaget, dentro da reflexão construtivista sobre desenvolvimento e aprendizagem, esse processo se dá principalmente considerando-se a maturação das funções biológicas. Já na perspectiva sócio-interacionista, ou sócio-histórica, abordada por Vygotsky, a relação entre o desenvolvimento e a aprendizagem está atrelada ao fato de o ser humano viver em meio social.
O ato de aprender deve contemplar uma atitude problematizadora, iniciando-se com uma ação contemplativa diante da realidade que permita gerar um problema, e depois, a busca de uma explicação que o resolva. Desenvolvendo assim um espírito investigativo, que valoriza a dúvida e a incerteza, enquanto fundamento primeiro para a construção e elaboração do conhecimento.
Historicamente, a prática pedagógica e o processo de aprendizagem foram associados a disciplinaridade, instituídos pela ciência moderna. Quando se observa a organização curricular dos cursos de escolaridade em geral, percebe-se facilmente uma estrutura constituída por um conjunto de disciplinas seqüenciadas e dissociadas, com uma abordagem fragmentada e isolada dos conteúdos. Fechando a perspectiva disciplinar, temos a especialização como parâmetro para a formação e prática profissional, tendo o seu aprendizado abordado em função da delimitação e do aprofundamento do conhecimento de certo fragmento da realidade. Neste contexto, a aquisição do conhecimento fica condicionada, por um lado, ao domínio de determinada unidade da realidade, e, por outro, a um elemento ou a alguns elementos dessa unidade, ou seja, o conhecimento é sempre e mais especializado.
Como o todo tem qualidades e propriedades que não são encontradas nas partes, se estas estiverem isoladas uma das outras, é preciso recompor o todo para conhecer as partes. O conhecimento interdisciplinar é aquele que percebe e pensa a realidade enquanto um acontecimento global e multidisciplinar, partindo do principio de que só a interação entre os diversos conteúdos das diversas disciplinas permite a apreensão da realidade, segundo as conexões entre seus diversos constituintes.
Diferentemente da disciplinaridade, a interdisciplinaridade concebe que a formação escolar não se dá apenas pela aquisição de conteúdos, sendo necessária também a aquisição de uma nova atitude sobre o uso deste conhecimento adquirido, permitindo a formação integral do indivíduo.
A atitude interdisciplinar permite o desenvolvimento do sujeito como um todo, de acordo com suas condições, possibilidades e entendimento.
A interdisciplinaridade se apresenta como uma possibilidade de resgate do homem frente à totalidade da vida. É como uma atitude, um novo olhar, que permite compreender e transformar o mundo, uma busca por restituir a unidade perdida do saber.
A educação desempenha, hoje, papel fundamental na procura de conhecimento novo, de explicações novas, de um saber-fazer novo, mais global, holístico e integral. Numa visão multidimensional, o processo educativo decorre dos aspectos inseparáveis e simultâneos que envolvem o físico, o biológico, o mental, o psicológico, o cultural e o social; enfatizando a consciência da inter-relação e interdependência essencial entre todos os fenômenos da natureza, o que implica a concepção de uma realidade a ser transformada. A possibilidade de um trabalho interdisciplinar fecundo depende especialmente da própria concepção de conhecimento bem como de uma visão geral do modo pelo qual as disciplinas se articulam internamente e entre si.
A interdisciplinaridade exige mudança, e esta implica rever, refazer, ressignificar, exercitar a metáfora do olhar que busca a pluralidade, considerando a singularidade.
O professor interdisciplinar deve ser um provocador de dúvidas, um incitador a reflexões e questionamentos, uma pessoa, que sabe o momento certo de interferir, mas que, ao mesmo tempo, aprende com seus alunos. Ao acontecer a atitude interdisciplinar, novos caminhos de ensino e pesquisa se abrem.
A interdisciplinaridade depende então, basicamente, de uma mudança de atitude perante o problema do conhecimento. Da substituição de uma concepção fragmentária pela unitária do ser humano. Onde a valorização é centrada, não no que é transmitido, e sim no que é construído.
Não somos, porém, somente seres pensantes. Somos também seres que agem no
mundo, que se relacionam com os outros seres humanos, com os animais, as plantas, as coisas, os fatos e acontecimentos, e exprimimos essas relações tanto por meio da linguagem quanto por meio de gestos e ações.
O primeiro meio de comunicação foi o corpo, através de gestos, sons e expressões. Depois, alguns aparatos foram adotados para a emissão da informação. O homem passou a se pintar e a usar roupas e máscaras que adicionaram significado à corporeidade. As imagens mentais dos sonhos passaram para as paredes das cavernas e depois para cerâmicas, madeiras ou pedaços de pedras, podendo, assim, ser transportadas para qualquer lugar.
Desta forma, a linguagem é a referência essencial, a partir da qual todas as formas de atividade inseridas em uma sociedade determinada pelo trabalho, pelo modo de produção, são explicativas da cultura. A cultura é compreendida pelas significações, porém em um mundo demarcado pelo trabalho, onde a linguagem e o pensamento refletem uma determinada realidade social e a linguagem possibilita resgatar o desenvolvimento histórico da consciência.
A contribuição da aprendizagem consiste no fato de colocar à disposição do indivíduo um poderoso instrumento: a língua. No processo de aquisição este instrumento se converte em uma parte integrante das estruturas psíquicas do indivíduo (a evolução da linguagem). Porém, existe algo mais: as novas aquisições (a linguagem), de origem social, operam em interação com outras funções mentais, por exemplo, o pensamento. Deste encontro nascem funções novas, como o pensamento verbal.
Vygotsky enfatizou como o papel da linguagem, um sistema simbólico dos grupos humanos, representa um salto qualitativo na evolução da espécie. É ela que fornece os conceitos, as formas de organização do real e a mediação entre o sujeito a o objeto do conhecimento. É por meio dela que as funções mentais são formadas e transmitidas.
No cérebro, a solução dos problemas complexos depende da conexão que se estabelece entre os neurônios especializados na solução de diferentes tarefas. A plasticidade dessas conexões permite que se aprenda a solucionar novos problemas.
Os diversos neurônios, das diversas áreas cerebrais, se especializam em tarefas definidas. Assim, uns são especializados para o processamento de informação visual, outros para o processamento auditivo, outros para o tato, etc. O aprender, por exemplo, de uma resposta motora a uma informação verbal, depende de aumentar a eficácia da transmissão sináptica entre neurônios encarregados da análise do som verbal e aqueles encarregados de controlar a resposta motora.A memória e a aprendizagem dependem, portanto, do relacionamento entre neurônios, relacionamento este que é governado por moléculas.
Segundo o Dr. Armando Freitas da Rocha, professor da UNICAMP e pesquisador da aprendizagem e cognição, todo o processamento cerebral tem uma base bioquímica. A
atividade elétrica da membrana depende do aporte metabólico para essa membrana, que por sua vez é controlado por vários sistemas enzimáticos, ativados pelos próprios íons envolvidos na gênese do potencial elétrico de membrana. A transmissão de informação entre os neurônios depende de uma troca molecular intensa entre esses neurônios. Assim, a chegada do pulso elétrico na terminação nervosa do neurônio pré-sináptico acarreta a entrada de cálcio, que controla a liberação de moléculas denominadas transmissores, estocadas em vesículas, nessa terminação. O transmissor é liberado pela célula pré-sináptica para agir na membrana da célula pós-sináptica. O acoplamento químico entre o transmissor e receptores específicos para esse transmissor, localizado na membrana da célula pós-sináptica exerce uma de duas funções:
1. Abrir um canal iônico permitindo que a atividade elétrica da célula pré-sináptica influencie a atividade elétrica da célula pós-sináptica ou
2. Ativar uma cadeia de reações enzimáticas, chamada de via de transdução de sinal, ou simplesmente VTS.
Muitas das VTSs das células pré-sinápticas e pós-sinápticas controlam a produção do próprio transmissor e seu receptor. Dessa maneira, a atividade em uma sinápse pode definir a quantidade de mediadores e receptores utilizados na transmissão da informação nessa própria sinapse. Essa base molecular do controle da eficácia da transmissão da informação em termos das sinapses é o mecanismo básico para explicar o aprendizado e a memória.
Os processamentos cerebrais dependem de como esses neurônios podem ser associados. Isto é, dependem da eficácia da transmissão sináptica entre eles.
A base molecular do aprendizado e da memória deve ser entendida dessa maneira. Isto é, a partir do controle de processos que estabilizam sinapses relevantes ao fato a ser aprendido ou memorizado. A memória biológica é uma memória endereçada por conteúdo. Em outras palavras, é definida a partir de relações entre eventos ou fatos.
Dessa maneira, a evocação de um dado evento deve, em geral, facilitar a lembrança de outros fatos a ele relacionados.
No estudo sobre os fundamentos da Educação, pode-se tomar como referência resultados sobre o funcionamento do cérebro para se repensar a prática educacional
Como o Prof. Armando apontou, o cérebro não está disponível para absorver qualquer informação que lhe seja apresentada; ao contrário, ele se estrutura em termos de padrões de atividade eletroquímica que definem núcleos de interesse, para os quais é dirigido o foco da atenção. Para se motivar alguém a aprender, é preciso atingir esses núcleos de interesse, ainda que de forma desestabilizadora (apresentando desafios às crenças previamente existentes no aluno). Caso a informação apresentada passe ao largo dos temas para os quais o cérebro foi previamente mobilizado, as chances de aprendizagem se tornam bastante reduzidas.
Humberto Maturana, biólogo chileno, pesquisador da neurobiologia, em seus primeiros estudos de Medicina, no Chile e depois na Inglaterra, mapeou uma compreensão dos seres vivos como "entes dinâmicos autônomos em contínua transformação em coerência com suas circunstâncias de vida.
Os estudos de Maturana explicitam o sinônimo entre conhecer e viver. A noção de viver-conhecer está diretamente vinculada com o modo de relacionar-se e de organizar-se nessa relação. Não se trata de adaptação ao meio. O viver-conhecer na relação significa, ao mesmo tempo, a criação/recriação desse espaço relacional, e de outros, e a criação/recriação do sistema em relação. Pode incluir, em algum momento, a adaptação, mas vai além dela. Nessa relação criativa, meio-sistema, é que emerge o social. E o social é entendido como domínio de condutas relacionais fundadas na emoção originária da vida
Segundo Maturana, um fio condutor que nos ajuda ir refletindo a educação e a prática educativa é a mudança na finalidade da educação, passando da busca mercadológica como objetivo educacional para a melhor qualidade do conviver humano, da qual o trabalho é decorrência, criação e não fim. Ele diz que a educação sempre é para que. Os grupos humanos, por situações diversas, vão pontuando, consciente ou inconscientemente, seus objetivos do educar. Para Maturana isso se dá de uma forma intersubjetiva. Em outras palavras, as ações são construídas nas ralações, mas de uma maneira autônoma e partilhada ao mesmo tempo. Atribui grande importância ao relacionar-se, mantendo a responsabilidade do sujeito por suas decisões. Por isso afirma que:
Nós, seres vivos, somos sistemas determinados em nossa estrutura. Isso quer dizer que somos sistemas tais que, quando algo externo incide sobre nós, o que acontece conosco depende de nós, de nossa estrutura nesse momento, e não de algo externo (Maturana, 1998b, p. 27).
Quando Maturana fala em sistema determinado está se referindo a uma construção estrutural que vem se constituindo historicamente no próprio processo vital do sistema, enquanto linhagem e enquanto indivíduo. Essa relação do sistema com o meio cria a linguagem.
Outro aspecto importante a considerar é a permanência do processo educativo. Não existe intervalo no ato de educar no conviver. O ato pedagógico é assim entendido como toda ação que alguém realiza no conviver.
Muitos professores ensinam suas matérias sempre da mesma maneira. Aos alunos, resta, como último recurso, decorar os conteúdos ensinados, em vez de aprendê-los.
Aprender significa trilhar caminhos próprios, pesquisar e experimentar coisas. Isso só é possível quando a camisa de força do currículo escolar não aperta demais, e quando professores estimulam e avaliam seus alunos individualmente. Curiosidade, interesse, alegria e motivação são os pré-requisitos necessários ao aprendizado do que quer que seja. Não basta entender como se aprende, é preciso descobrir a melhor forma de ensinar.
Um professor, dentro da sala de aula, que tiver consciência da história de vida de seu aluno, e puder tratá-lo como um sujeito único, capaz de aprender, certamente terá mais possibilidade de auxiliá-lo a encontrar sua própria forma de assimilar o conhecimento.
Na verdade, o educador não tem total domínio e controle do que está transmitindo. Transmite conteúdo e valores, mas muitas coisas ele pode estar passando nas entrelinhas, que vêm do inconsciente, como, por exemplo, um descontentamento com a profissão. Ocorrendo uma relação transferencial entre professor e aluno, este pode transferir para o professor afetos dirigidos ao pai. Assim, no caso de não se relacionar bem com seu pai, não se dará bem com esse professor, independentemente do esforço do professor para conquistar esse aluno. Isso porque a relação transferencial é inconsciente. Da mesma forma, o professor pode transferir uma série de questões suas, inconscientes, para o aluno.
Quanto mais bem organizada for a base de conhecimentos prévios, mais fácil será o aprendizado. Portanto, para melhorar as suas aulas, os educadores devem saber quais conhecimentos anteriores os alunos devem ter para que os objetivos didáticos sejam atingidos.
Os educadores deveriam saber sobre a influência existente entre os acontecimentos dos primeiros anos da infância e os comportamentos atuais de seus alunos, a luz da psicanálise, pois "nenhuma das formações mentais infantis perece" (Freud, 1975, p. 224). Devemos em primeiro lugar, entender a nossa infância, e aí sim, partir para desvendar os mistérios das mentes dos nossos alunos, só assim, compreenderemos realmente o nosso verdadeiro papel e a função de educador.
O educador está diante de um grande problema: conhecer a individualidade psíquica de cada criança, reconhecer o que se passa em sua mente através de pequenos gestos que deixam transparecer; dar-lhe amor e ser autoridade ao mesmo tempo. Para facilitar a resolução desse problema, seria necessária a formação psicanalítica, além da medida profilática, a análise de professores.
Existe aprendizagem quando a conduta de um organismo varia durante sua ontogenia, período que engloba a fertilização do óvulo até a fase adulta, de maneira congruente com as variações do meio, e o faz seguindo um curso contingente a suas interações nele.
A aprendizagem é o processo mediante o qual o organismo obtém uma informação do meio e constrói uma representação dele, que armazena em sua memória e utiliza para gerar sua conduta em resposta às perturbações que dele provém. Deste ponto de vista, a lembrança consiste em encontrar na memória a representação procurada para computar respostas adequadas às interações recorrentes do meio.
A primeira molécula só sobrevive mediante a aprendizagem, adaptação e comunicação. Isso se aplica a cada célula, cada órgão, cada ser humano, cada comunidade que produz cultura.
Luiz Prigenzi (Médico, educador e pesquisador na área das ciências neurocognitivas)

BIBLIOGRAFIA:
Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática. São Paulo. 2000
Carvalho, Waldênia Leão. Fascículo de Filosofia da Educação. Curso de Licenciatura em Biologia. UPE. EAD. 2008
Wong, Kate. O despertar da mente moderna. Revista Scientific American. Edição Especial: Como nos tornamos humanos.
Friedrich, Gerhard. Ciência do aprendizado. Revista Mente e Cérebro. Edição Especial: Como o cérebro aprende.
Leal, Gláucia. Aprender a ensinar. Revista Mente e Cérebro. Edição Especial: Como o cérebro aprende.
Schumacher, Ralph. Neurônios em ação. Revista Mente e Cérebro. Edição Especial: Como o cérebro aprende
Muszkat, Mauro. Dinâmica do conhecimento. Revista Mente e Cérebro. Edição Especial: Como o cérebro aprende.
Deloache, Judy. Mente simbólica. Revista Mente e Cérebro. Edição Especial: Como o cérebro aprende.
Mirabella, Giovanni. O cérebro aprende. Revista Mente e cérebro. Edição Especial. Percepção.
Maturana, Humberto Romesín. Da biologia à psicologia. Editora Artes Médicas. Porto Alegra. 1998.
Fields, R. Douglas. Lembranças que ficam. Revista Mente e Cérebro. Julho 2006.
Chapouthier, Georges. Registros evolutivos. Revista Mente e Cérebro. Edição Especial: Memória.
Potier, Briitte. Arquivo cerebral. Revista Mente e Cérebro. Edição Especial: Memória.
Fuster, Joaquín. Arquitetura da rede. Revista Mente e Cérebro. Edição Especial: Memória.
Laroche, Serge. Marcas da identidade. Revista Mente e Cérebro. Edição Especial: Memória.

COMPREENDENDO O PROCESSO DO APRENDER – parte 1/2

Gilson Tavares (psicanalista e educador)
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COMPREENDENDO O PROCESSO DO APRENDER – parte 1/2

COMPREENDENDO O PROCESSO DO APRENDER – parte 1/2

Uma visão neurobiológica, psicológica e pedagógica do processo de apreensão do conhecimento

Gilson Tavares – Psicanalista e educador
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Neurobiólogos descrevem o cérebro como um sistema dinâmico que, no nascimento, dispõe de um estoque básico de saber prévio, e começa, de imediato, a dirigir perguntas ao exterior. Desde o primeiro choro, bebês ocupam-se de descobrir o que se passa em torno deles. O fluxo das informações provenientes dos sentidos e a interação dinâmica e constante com o meio determinarão como o cérebro irá se desenvolver, isto é, o que vamos aprender e que talentos desenvolveremos.
Como um escultor que talha a pedra, processos de aprendizagem modelam o cérebro dotado de sinapses em excesso. Eles dissolvem conexões pouco utilizadas ou fortalecem as ativas e de uso freqüente. Desde o tatear inicial do bebê, passando pela fala, pelo conhecimento pormenorizado, até os vocábulos mais complexos, tudo o que aprendemos altera nossa rede neuronal. Assim, o desenvolvimento das capacidades cognitivas e o do cérebro estão vinculados um ao outro de forma indissociável. E os educadores que sabem de que forma e segundo quais condições o cérebro se modifica durante o aprendizado, sem dúvida poderão ensinar melhor.
A multiplicação dos estímulos exteriores determina qual será a complexidade das ligações entre as células nervosas e como elas se comunicarão entre si. É somente quando o desenvolvimento do cérebro é determinado por aquilo que se aprendeu e experimentou que a adaptação do nosso órgão central ao ambiente em que vivemos se dá de forma ideal.
Por quais estímulos nos decidimos é algo que depende também de fatores internos, e principalmente do significado que atribuímos a um evento. Cada mensagem provinda dos sentidos faz o cérebro vasculhar a memória em busca de informações pertinentes a ela. Reúne-se tudo que já se aprendeu ou experimentou no passado a seu respeito.
Quanto maior a quantidade de dados semelhantes preexistentes,tanto mais fácil é a fixação do novo. Aprender é, pois, um processo que se auto-alimenta. No cotidiano escolar tradicional, raras vezes procura-se expandir as capacidades preexistentes.
Alguns especialistas propõem focar na origem e na evolução da característica mais importante das sociedades humanas modernas, o pensamento simbolicamente organizado, incluindo a linguagem.
Logo ao nascer, todo ser humano possui centenas de bilhões de neurônios, número que sofre pequena redução ao longo da vida. De início, surgem sinapses uniformemente distribuídas. Quando, porém, certos neurônios respondem a estímulos que se manifestam em conjunto, disparando neurônios de forma sincronizada, as sinapses entre tais neurônios se fortalecem e perduram por longo tempo.
Embora o aprendizado jamais tenha fim, as bases do saber futuro são lançadas em grande parte já na infância.Passada a puberdade, o cérebro se deixa modelar com menos facilidade, e a formação de novas conexões sinápticas torna-se mais rara.
A neurobiologia mostra também que se aprende melhor quando o objeto do aprendizado tem um conteúdo emocional. As informações revestidas de colorido emocional não apenas encontram com mais facilidade o caminho até a memória de longa duração, mas também permanecem mais acessíveis, prontas para serem evocadas.
Apenas os sentimentos são capazes de transformar uma aula numa experiência pessoal, porque nesse caso os conteúdos a aprender passarão a significar alguma coisa para o aluno.
Memória é a capacidade que certos seres vivos têm de armazenar, no sistema nervoso, dados ou informações sobre os meios que os cerca, para assim modificar o próprio comportamento.
O sistema nervoso é uma rede fechada de elementos celulares na qual toda mudança nas relações de atividade de alguns de seus componentes sempre dispara uma mudança de atividade em outros componentes da rede, entre os quais podem incluir-se eles mesmos. A organização do sistema nervoso é, portanto, a de uma rede fechada de componentes que interatuam entre si, provocam uns nos outros mudanças de atividade que resultam em novas interações entre eles. Tal organização é a que se mantém invariável enquanto o sistema nervoso se mantém como sistema nervoso, em sua mudança estrutural com conservação da organização e o acoplamento estrutural que constitui seu acontecer como componente de um organismo.
A memória depende da totalidade do lobo temporal medial. Outras regiões cerebrais também desempenham função importante na memória: o córtex, o tálamo, o septum, o estriado, o cerebelo, etc. Esse papel pode incidir diretamente ou indiretamente na elaboração ou armazenamento do traço de memória.
As memórias são criadas quando os neurônios em um circuito reforçam a sensibilidade de suas conexões, conhecidas como sinapses. No caso das memórias de curto prazo, o efeito dura apenas de minutos a horas. Para memórias de longo prazo, as sinapses tornam-se permanentemente fortalecidas.
Toda impressão sensorial que o sistema de atenção considera relevante deposita-se, primeiramente, na memória de curta duração. Sua fixação mais duradoura no cérebro dependerá da intensidade da impressão provocada nele, e de ele seguir ou não se ocupando dela. Isso demanda alterações químicas e elétricas capazes de fortalecer os contatos sinápticos. As células nervosas, interconectadas, vão pouco a pouco formando um padrão de conexões sólidas que constituem a memória de longa duração.
Ambas as memórias nascem de conexões entre os neurônios, em pontos de contato chamados sinapses. Nelas, um prolongamento dos neurônios, o axônio, encontra as extremidades receptoras de sinais, os dendritos. Quando uma memória de curta duração é criada, uma estimulação da sinapse é suficiente para sensibilizá-la aos subseqüentes.
Os neurotransmissores se ligam aos receptores no dendrito, desencadeando uma despolarização local na membrana da célula pós-sináptica. As mensagens começam a viajar entre um neurônio, a célula pré-sináptica, e outro, quando um pulso elétrico chamado de potencial de ação, viaja por uma extensão do primeiro neurônio, o axônio, até chegar à sua ponta.
As lembranças e as percepções se baseiam em redes de neurônios interconectadas. Cada nova percepção acrescenta conexões a uma rede em que já estão enraizadas as percepções anteriores. Cada neurônio ou grupo de neurônios pode fazer parte de várias redes e, consequentemente, de várias lembranças.
Graças as novas conexões, toda experiência é integrada às redes que já existem e que ela ativa. O novo evoca o antigo e, por associação e consolidação, torna-se parte integrante dele.
A memória envolve não só percepções, ações e objetivos, mas também sentimentos, imaginação e trajetória do pensamento. O conjunto de experiências acumuladas no cérebro é a marca de nossa identidade.
As experiências sensoriais deixam traços no cérebro ao modificar a eficácia dos contatos sinápticos entre neurônios, fortalecendo assim a estrutura das redes neuronais. Dependendo do se grau de ativação durante a experiência sensorial, certas sinapses são reforçadas, outras enfraquecidas e novas aparecem.
Segundo os neurocientistas, quanto mais recursos forem empregados na transmissão de uma informação, tanto melhor ela se fixará na memória de longa duração. É mais fácil aprender com a colaboração do maior número possível de órgãos dos sentidos.
Ao que todo indica, o sistema de busca de informações chamado cérebro sabe quais os pontos fortes de seu dono e procura explorá-los e expandi-los. A criança se interessará mais naquilo que ela sabe melhor, e será também sobre isso que ela fará mais perguntas. Por esse motivo, a tarefa mais importante de pais e educadores, consiste em descobrir o que a criança domina melhor, o que desperta sua curiosidade. Somente educadores que conhecem as capacidades de seus alunos podem dar ao cérebro aprendiz o alimento que ele demanda.
Todo conhecimento científico cria conceitos muito particulares sobre a maneira de encararmos a nós mesmos, nosso cérebro e o mundo que nos cerca. Somos ao mesmo tempo sujeito e objeto dessa observação.
Desenvolver, no sentido cognitivo e orgânico, significa estabelecer uma relação de aprendizado, troca e comunicação intensa entre o organismo e o ambiente no qual esse organismo vive.
A aprendizagem requer crescimento e formação de novas conexões sinápticas, crescimento de espículas dendríticas, mudança de conformação de macroproteínas das membranas pós-sinápticas, aumento dos neurotransmissores, neuromoduladores e das áreas sinápticas funcionais. Essas etapas ocorrem durante todas as fases, desde o registro e aquisição da informação até seu armazenamento e evocação.
Ao ordenar-se primeiramente e ao ler e, posteriormente ao escrever a criança pode ser reconhecida pelo Outro como fazendo parte do humano. Então, na construção da escrita, está envolvida a tomada da letra do inconsciente, que lá se encontra recalcada na forma do significante. Poder-se ia intuir, portanto, que uma criança que conhece as letras, mas não consegue juntá-las para formar uma palavra não o faz porque também não consegue operar com a letra, já que para isto terá que subjetivá-la. Somente na operacionalização do recalque é possível que haja um aprender de fato, um apreender. Isto possibilita um processo de transposição, condição para o desenrolar da aprendizagem,
As mudanças nos conceitos de modulação cerebral, reorganização funcional e sináptica do cérebro pela experiência e aprendizagem pressupõem que novas formas de ensino e estimulação inovadoras deverão ser formuladas para possibilitar as melhores estratégias para as várias disfunções.
O que mais distingue os humanos de outras criaturas é a capacidade de criar e operar uma grande variedade de representações simbólicas. Essa habilidade nos permite transmitir informações de uma geração à outra e adquirir repertório sobre certos assuntos sem ter experiência direta com eles. Por causa do papel fundamental da simbolização em quase tudo o que fazemos, talvez nenhum aspecto do desenvolvimento humano seja mais importante que compreender símbolos.
Até pouco mais de 20 anos, pesquisadores acreditavam que o sistema nervoso central dos mamíferos poderá ser modificado apenas por um período limitado do desenvolvimento. No entanto, estudando o funcionamento do sistema nervoso a partir de uma perspectiva macroscópica, etólogos e psicólogos constataram que o repertório comportamental do adulto apresenta certo grau de plasticidade.
Os tecidos cerebrais nervosos dever ser pensados como conjuntos dinâmicos que são continuamente modelados pela experiência sensorial e pela aprendizagem.
A noção de desenvolvimento está atrelada a um contínuo de evolução, em que nós caminharíamos ao longo de todo o ciclo vital.
Este caminhar contínuo não é determinado apenas por processos de maturação biológicos ou genéticos. O meio (e por meio entenda-se algo muito amplo, que envolve cultura, sociedade, práticas e interações) é fator de máxima importância no desenvolvimento humano.
• Para os teóricos Construcionistas, tendo como ícone Piaget, o desenvolvimento é construído a partir de uma interação entre o desenvolvimento biológico e as aquisições da criança com o meio.Temos ainda uma abordagem Sociointeracionista, de Vygotsky, segundo a qual o desenvolvimento humano se dá em relação nas trocas entre parceiros sociais, através de processos de interação e mediação.
Vygotsk, pesquisador russo dos processos de aprendizagem, diz que aprendizagem é o processo pelo qual o indivíduo adquire informações, habilidades, atitudes, valores, etc. a partir de seu contato com a realidade, o meio ambiente e com as outras pessoas. Ele diz que é o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos do indivíduo, ligando o desenvolvimento da pessoa à sua relação com o ambiente sócio-cultural em que vive, e reconhece que a situação do homem como organismo não desenvolve plenamente sem o suporte de outros indivíduos de sua espécie.
As características de cada indivíduo vão sendo formadas a partir das inúmeras e constantes interações do indivíduo com o meio, compreendido como contexto físico e social, que inclui as dimensões interpessoal e cultural. Nesse processo dinâmico, ativo e singular, o indivíduo estabelece, desde o seu nascimento e durante toda a sua vida, trocas recíprocas com o meio, já que, ao mesmo tempo que internaliza as formas culturais, as transforma e intervém no universo que o cerca.
Assim, as características do funcionamento psicológico como o comportamento de cada ser humano são, nesta perspectiva, construídos ao longo da vida do indivíduo através de um processo de interação com o seu meio social, que possibilita a apropriação da cultura elaborada pelas gerações precedentes.
Vygotsky enfatizava o processo histórico-social e o papel da linguagem no desenvolvimento do indivíduo. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. Para o teórico, o sujeito é interativo, pois adquire conhecimentos a partir de relações intra e interpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo denominado mediação.
Para Vygotsky, não é suficiente ter todo o aparato biológico da espécie para realizar uma tarefa se o indivíduo não participa de ambientes e práticas específicas que propiciem esta aprendizagem. Não podemos pensar que a criança vai se desenvolver com o tempo, pois esta não tem, por si só, instrumentos para percorrer sozinha o caminho do desenvolvimento, que dependerá das suas aprendizagens mediante as experiências a que foi exposta.
A teoria desenvolvida por Vygotsky tem como base a construção sócio-histórica ou histórica-cultural da mente humana. O seu enfoque centrava-se na questão de como os fatores sociais e culturais influenciavam o desenvolvimento intelectual, a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. O núcleo central de sua teoria trata de como os indivíduos, interagindo com colegas e com instrutores, constroem e internalizam o conhecimento.
Vygotsky enfatizou como o papel da linguagem, um sistema simbólico dos grupos humanos, representa um salto qualitativo na evolução da espécie. É ela que fornece os conceitos, as formas de organização do real e a mediação entre o sujeito a o objeto do conhecimento. É por meio dela que as funções mentais são formadas e transmitidas.
Os fatores sociais, de acordo com Vygotsky, desempenham um papel fundamental no desenvolvimento intelectual. Quando o conhecimento existente na cultura é internalizado pelas crianças, as funções e as habilidades intelectuais são provocadas ao desenvolvimento desse conhecimento. Sabendo-se que o aprendizado leva ao desenvolvimento, então esse círculo leva ao desenvolvimento contínuo, a partir do conhecimento acumulado.
Na concepção de Vygotsky, todo ser humano se constitui um "ser" pelas relações que estabelece com os outros seres humanos. O sujeito é interativo, porque forma conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais. É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a formação do conhecimento e da própria consciência. A aprendizagem é o processo pelo qual o indivíduo adquire informações, habilidades, atitudes e valores a partir de seu contato com a realidade, com o meio ambiente e com pessoas.
Uma sociedade só cresce com a participação e colaboração de todos. Crescemos e construímos porque somos seres capazes de conviver em sociedade onde cada um contribui para o desenvolvimento do todo. No momento em que estamos participando ativamente do meio, estamos aprendendo e repassando conhecimentos.
Neste modelo, o sujeito – no caso, a criança – é reconhecida como ser pensante, capaz de vincular sua ação à representação de mundo que constitui sua cultura, sendo a escola um espaço e um tempo onde este processo é vivenciado, onde o processo de ensino-aprendizagem envolve diretamente a interação entre sujeitos.
Considerando que o desenvolvimento psíquico é definido como um reflexo ativo da realidade, produzido e desenvolvido a partir da prática social, com a participação da prática do indivíduo, que orienta a sua vida frente ao mundo e aos demais indivíduos, a educação apresenta-se como um componente importante para o confronto de informações culturais, que possibilita o continuum processo do conhecimento e da constituição do psiquismo.
Compartilhamos o instinto e o hábito com os animais. O instinto, por exemplo, nos leva automaticamente a contrair a pupila quando nossos olhos estão muito expostos à luz e a dilatá-la quando estamos na escuridão. O instinto é inato. Ao contrário, o hábito é adquirido, mas, como o instinto, tende a realizar-se automaticamente. Por exemplo, quem aprende a andar de bicicleta ou a nadar, realiza maquinalmente os gestos necessários, depois de adquiri-los.
A inteligência difere do instinto e do hábito por sua flexibilidade, pela capacidade de encontrar novos meios para um novo fim, ou de adaptar meios existentes para uma finalidade nova, pela possibilidade de enfrentar de maneira diferente situações novas e inventar novas soluções para elas, pela capacidade de escolher entre vários meios possíveis e entre vários fins possíveis.
Quando o homem se tornou um animal tribal, desde que começou a andar ereto, mais de 4 milhões de anos atrás, ele passou a ser um caçador e guerreiro tribal, onde a cooperação social era um fator importante de sobrevivência. Todos os instintos sociais humanos se desenvolveram bem antes da esfera intelectual: instinto maternal, cooperação, curiosidade, criatividade, compaixão, altruísmo, competitividade, etc., são muito antigos, e podem ser vistos já nos antropóides. Mas, o ser humano novamente se distingüe dos outros primatas através de uma característica mental muito forte. Gradativamente desenvolvemos o auto-controle, ou seja, a capacidade de modificarmos qualquer comportamento social, mesmo que instintivo, de maneira a torná-lo mais útil para nossa sobrevivência. Quanto mais disciplinados, e capazes de auto-controle e de planejamento, quanto mais nossa mente racional for capaz de dominar a emocional e instintiva, mais humanos seremos.
Nossa mente se desenvolveu para resolver problemas dos nossos antepassados caçadores e coletores do pleistoceno, há cerca de 2,5 milhões de anos atraz. Foi o modo de vida deles que forjou grande parte das estruturas mentais que dispomos hoje. As características funcionais complexas da mente humana se desenvolveram como respostas às demandas do estilo de vida de caçadores e coletores, mais do que nos dias de hoje. A curta existência do homem atual, cerca de apenas 10.000 anos, não é suficiente para gerar e consolidar as adaptações necessárias à vida social.
Do ponto de vista psicológico, a consciência é o sentimento de nossa própria Identidade.
Ao longo de sua evolução, o homem humanizou-se, transformou-se em um ser que pensa, que deseja, que é construído pela cultura, a partir do momento que começou a interagir com mundo, atransformar o mundo, e aadaptar-se de forma mais eficaz as condições dos ambientes hostis. Tudo isso só foi possível graças a capacidade do homem de aprender, de acumular conhecimentos, e de utilizar esses conhecimentos apreendidos para desenvolver técnicas que o auxiliam no enfrentamento das adversidades.
O aprender, necessariamente, se revela pela modificação de comportamentos. Modificações que podem determinar a sobrevivência do indivíduo, e que contribuem para a evolução do homem, no tocante ao seu desenvolvimento social.
Para que aconteça realmente o aprendizado, não basta apenas a transmissão de um conhecimento, mas sim a construção de habilidades e competências, e o professor dessa era de globalização e de exigências cada vez mais multidisciplinar no exercício das profissões, não pode mais ser o mestre que detêm o saber , e que o transmite aos seus discípulos, mas sim um facilitador, que auxilia o aluno a construir o seu aprendizado, e que também faz parte desse processo, sempre adquirindo novos conhecimentos.
Para que o processo de aprendizagem aconteça de forma eficaz, é necessário que o professor adquira não mais apenas os conhecimentos relacionados com a disciplina que vai lecionar, mas também conhecimentos referentes aos processos de aprendizagem, aos processos de construção do homem, enquanto sujeito da linguagem, e principalmente, conhecimentos referentes aos processos cognitivos que levam o homem a apreender informações, e a transformar essas informações em conhecimento.
Já quanto as diferenças de habilidades encontradas nos alunos, falou-se em enfatizar essas diferenças, quando a meu ver, a enfatização dessas diferenças só fazem com que as mesmas fiquem mais evidentes, e que talvez o procedimento mais correto fosse não trabalhar essas diferenças, mas enfatizar e trabalhar mais os pontos em comum, os pontos que unem.
O aprender se revela pela modificação de comportamentos que podem determinar a sobrevivência do indivíduo, e contribui para a sua evolução, tanto individual quanto social. Para que aconteça realmente o aprendizado, não basta apenas a transmissão do conhecimento, mas a construção de habilidades e competências. Vários autores produziram teorias sobre a construção da aprendizagem, entre eles destacam-se Piaget e Vygotsky.
Piaget sempre rejeitou a posição inatista, que se apóia em fatores hereditários e maturacionais para o desenvolvimento da inteligência, e a posição ambientalista, que é apoiada em fatores ambientais como determinantes para a constituição da inteligência. Com uma posição interacionista, Piaget diz que a inteligência se apóia em fatores hereditários e maturacionais, mas que depende da interação com o ambiente para se desenvolver.
Piaget demonstrou que a aprendizagem é um processo cognitivamente ativo e interativo, que o conhecimento é algo a ser construído, e não passivamente recepcionado. Defendendo a idéia de que a estrutura cognitiva funciona através do movimento contínuo, onde a aprendizagem é assimilada, filtrada e interpretada segundo a capacidade da estrutura cognitiva interna do indivíduo.
Por defender a idéia de que a inteligência é construída pelo indivíduo, por meio da interação com o ambiente, sua teoria recebeu a denominação de Construtivismo. Teoria que diz que uma criança interage com o mundo diferentemente de um adulto, pelo simples motivo de que suas estruturas cognitivas são qualitativamente diferentes.
Segundo Piaget, o processo de interação/construção da inteligência compreende a influência de quatro fatores:
•Maturação orgânica – o desenvolvimento do sistema nervoso e suas conexões nervosas são de extrema relevância para a formação das estruturas cognitivas, embora condição necessária mas não suficiente.
•Experiência -as manipulações físicas e cognitivas do sujeito sobre os objetos permite a construção do conhecimento e a possibilidade de operar mentalmente com ele.
•Transmissão social – as informações advindas do meio fazem a criança e o adolescente interrogarem os acontecimentos da realidade.
•Equilibração – o desenvolvimento da inteligência caracteriza-se pelo movimento contínuo de um estado de desequilíbrio para um estado de equilíbrio.
Segundo o construtivismo, teoria desenvolvida por Piaget, o conhecimento se constrói na interação do sujeito com o objeto. As estruturas não estão Pré-formadas dentro do sujeito, mas são construídas, ocorrendo uma construção contínua de estruturas variadas.
A aprendizagem, decorrente da interação adaptativa do sujeito com o objeto, é construída segundo diversos estágios do desenvolvimento cognitivo:
•Senso-motor (0-24 meses) – neste estágio a criança é desprovida de linguagem, interagindo com os objetos a partir de suas sensações e ações motoras.
•Pré-operatório (2 a 7 anos) – a criança desenvolve a capacidade simbólica, caracterizando-se pelo egocentrismo, onde a criança ainda não se mostra capaz de colocar-se na perspectiva do outro.
•Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos) – neste período, a criança adquire a capacidade de estabelecer relações e coordenar pontos de visa diferentes, próprios e do outro, e de integrá-los de modo lógico e coerente.
•Operações formais (11 ou 12 anos em diante) – nesta fase a criança amplia as capacidades conquistadas anteriormente, conseguindo raciocinar sobre hipóteses,na medida em que ela é capaz de formar esquemas conceituais abstratos, e através desses esquemas, executar operações mentais dentro de princípios da lógica formal.
De acordo com a tese piagentina, ao atingir a fase de operações formais, o indivíduo adquire sua forma final de equilíbrio, alcançando o padrão intelectual que persistirá durante a idade adulta, e que seu desenvolvimento posterior consistirá numa ampliação de conhecimentos, e não na aquisição de novos modos e funcionamento mental.
Em Vygotsk, ao contrário de Piaget, o desenvolvimento psicológico e mental, que é promovido pela convivência social, além das maturações orgânicas, depende também da aprendizagem na medida em que se dá por processos de internalização de conceitos que são promovidos pela aprendizagem social.
Segundo Vygotsky, não é suficiente todo o aparato biológico da espécie para realizar uma tarefa se o indivíduo não participa de ambientes e práticas específicas que propiciem esta aprendizagem.
Para Vygotsky, o desenvolvimento humano ocorre a partir da linguagem, razão pela qual prioriza o significado dos símbolos, destacando sua importância na análise dos sistemas simbólicos e o processo de internalização.
Na sua análise, Vygotsky relaciona duas expressões: Pensamento e linguagem. O pensamento representa a criação interna, orientado inicialmente pelos instintos. A linguagem é a manifestação e/ou expressão do pensamento.
A teoria desenvolvida por Vygotsky tem como base a construção sócio-histórica ou histórica-cultural da mente humana. O seu enfoque centrava-se na questão de como os fatores sociais e culturais influenciavam o desenvolvimento intelectual e a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio.
Na concepção de Vygotsky, todo ser humano se constitui um "ser" pelas relações que estabelece com os outros seres humanos. O sujeito é interativo, porque constrói conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais. A aprendizagem é o processo pelo qual o indivíduo adquire informações, habilidades, atitudes e valores a partir de seu contato com a realidade, com o meio ambiente e com as pessoas. E que a linguagem fornece os conceitos, as formas de organização e a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. É por meio da linguagem que as funções mentais são formadas e transmitidas.
Segundo a teoria de Vygotsky, a condição sócio-histórica leva á constituição de um contexto cultural, no qual temos o conjunto de crenças, idéias e valores, que produz e reproduz as relações sociais, sendo este o real e o verdadeiro ambiente no qual se dá o desenvolvimento dos processos psicológicos.
Para Vygotsky, os processos superiores, aqueles que permitem ao ser humano uma ação voluntária, intencional e conscientemente planejada, diferentemente dos processos elementares, como os advindos dos instintos, não se deve apenas a herança biológica à sua maturação, mas, principalmente, à aprendizagem. E que essa aprendizagem se dá principalmente na interação com o outro e com o ambiente.

Continua ...

COMPREENDENDO O PROCESSO DO APRENDER – parte 2/2

Gilson Tavares (psicanalista e educador)
http://gilsontavares.blogspot.com/

          




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Família e escola diante da violência escolar

Família e escola diante da violência escolar

Uma reflexão sobre a violência escolar e as suas consequências

Gilson Tavares – Psicanalista e educador
gilsontavares_psi@yahoo.com.br)

A agressividade é uma das características naturais do ser humano. É como uma fonte de energia que, usada adequadamente, serve para nos levar e manter na busca por ideais, metas e objetivos.
Segundo o filósofo francês Jean-Marie Muller, pesquisador há 30 anos da teoria da não-violência, "a agressividade é como o fogo, pode fazer o bem ou o mal, pode construir ou destruir".
A agressividade é um componente importante na vida de todo ser humano, é natural e necessário para a sobrevivência e crescimento do homem.
O importante é como o sujeito expressa ou canaliza sua agressividade. Se de forma construtiva ou destrutiva.
Quando o sujeito não consegue canalizar a sua agressividade de forma construtiva, comumente ele orienta a sua agressividade para o próximo. Por não encontrar o próprio caminho, ele se ressente com o outro, como se o outro fosse responsável pela sua angústia interior, ou como se a felicidade do outro desse testemunho de sua miséria existencial. Sua agressividade adoecida lhe faz ver no outro um obstáculo para sua felicidade, e começa a canalizar para as pessoas ao seu redor sua agressividade adoecida. No limite, esta agressividade transforma-se em violência.
Isso acontece quando a agressividade natural da criança nunca foi reprimida. É típico da criança invejosa que tudo pode e nada tem ou daquela que nada teve e tudo quer.
O homem começa sua caminhada rumo à civilização atento ao mais mínimo ruído vindo da floresta; o menor som poderia significar um perigo de morte ou apenas o almoço que se mexia sorrateiramente entre os arbustos. Para sobreviver, o homem primitivo aguçou seus sentidos para vencer os desafios da natureza, e todos os dias lutava para abater sua presa a fim de que o grupo pudesse se alimentar. A vida era sistematicamente colocada em jogo, o instante seguinte poderia representar a morte e qualquer atitude demandava um alto grau de agressividade. Viver era extremamente perigoso.
Os anos se passaram, e o homem agora já não mais precisa pescar ou caçar para sobreviver, os supermercados modernos substituíram a selva, tudo sem os riscos que a selva oferecia.
Sem os contextos antropológico, filosófico, comportamental e a colaboração de outras disciplinas que estudam o comportamento humano, não será possível compreender e criar estratégias de combate a violência.
A violência é um distúrbio da agressividade. A agressividade em si não é um mal, pelo contrário, é uma função estruturante da vida do sujeito. Da mesma forma que precisamos da afetividade para acolher o que nos faz bem, precisamos da agressividade para rejeitar o que nos faz mal. Até porque tem um ditado que diz "quem não afasta o mal, é logo dominado por ele".
No livro Privação e delinquência, o pediatra e psicanalista inglês Winnicott, diz que "de todas as tendências humanas, a agressividade, em especial, é escondida, disfarçada, desviada, atribuída a agentes externos, e quando se manifesta é sempre difícil identificar suas origens".
Ridley, pesquisador do comportamento humano, diz que os seres humanos reprimem a violência e a agressão da mesma forma que os demais animais, pela lei social.
Freud, criador da psicanálise, diz que o homem seria intrinsecamente mau e destrutivo, tendo de ser contido em seus desejos por forças civilizatórias, sem o que estaria condenado ao modo de viver impulsivo próprio dos povos primitivos.
A restrição à agressividade do indivíduo seria o primeiro e talvez mais severo sacrifício que o homem tem que fazer para viver em sociedade.
Ainda segundo Winnicott, que dedicou muito de seu tempo estudando a agressividade e destrutividade inerente à natureza humana, a agressividade pode tomar vários caminhos, e estes caminhos estarão de acordo com a resposta ambiental. De acordo com a teoria do amadurecimento, elaborada por ele, todo indivíduo humano é dotado de uma tendência inata ao amadurecimento. Mas, que apesar de inata, trata-se de uma tendência e não de uma determinação. Para que a tendência venha a realizar-se, o bebê depende da presença de um ambiente facilitador, que atenda suas necessidades. Segundo essa teoria, o amadurecimento começa em algum momento após a concepção, e quando não há incidentes pelo caminho, não cessa até a morte.
John Bowbly, psiquiatra e psicanalista inglês, um dos criadores da teoria do apego, diz que as primeiras relações do indivíduo com o outro, com a mãe principalmente, estabelece o modo de como ele vai se relacionar para o resto da vida, o desenvolvimento emocional fica muito comprometido em crianças com distúrbios de personalidade, uma vez que é limitado o seu repertório de emoções para conviver com outras pessoas.
Ele diz também que crianças com transtorno de caráter normalmente projetam nos outros seus defeitos não aceitos, muitas vezes atuando com agressividade.
Winnicott diz que, embora inerente à natureza humana, a agressividade só se desenvolverá e se tornará parte do indivíduo, se lhe for dada a oportunidade de experiênciá-la durante o processo de amadurecimento. Para ele, é a atitude do ambiente com relação à agressividade do bebê que influencia de maneira determinante o modo como este irá lidar com a tendência agressiva que faz parte de sua natureza.
Quando o ambiente falha no atendimento às necessidades do bebê, ou na contenção de seus impulsos agressivos, começa a se instalar nesse bebê uma tendência anti-social.
Crianças ou adolescentes que apresentam comportamento anti-social são percebidas como socialmente incompetentes, uma vez que se utilizam de mecanismos de interação e de solução de problemas considerados socialmente inadequados.
O termo anti-social é empregado para se referir a todo comportamento que infrinja regras sociais ou que seja uma ação contra os outros: como o comportamento agressivo, furto, roubo, vandalismo, mentira, ausência escolar, fugas de casa, entre outros.
Segundo o CID10, manual de classificação de doenças, a personalidade anti-social é um transtorno de personalidade caracterizado por um desprezo às obrigações sociais e uma falta de empatia para com os outros. Sendo inclusive esses comportamentos não modificados pelas experiências ou por punições.
Tudo indica que nos casos que hoje assistimos acontecer na nossa sociedade, esteja havendo uma falha básica da família em seu papel contenedor dos impulsos agressivos. A tendência anti-social, que seria normal até nos bons lares, está se transformando rapidamente em destrutividade, violência e delinqüência.
Distúrbios de Comportamento são padrões de conduta que podem ameaçar as relações normais entre a criança e as pessoas que a rodeiam e tendem a piorar no decorrer do tempo, transformando-se num quadro de Transtorno de Conduta futuro.
As crianças e adolescentes com distúrbios de comportamento representam um grande desafio para os educadores, para a escola e para a sociedade. São indivíduos que apesar de possuírem capacidade cognitiva dentro da média, nem sempre são capazes de realizar suas tarefas acadêmicas, além disso, chamam a atenção do grupo mais pelo desconforto que geram do que pela capacidade de manter boas relações.
Os alunos com distúrbio de comportamento freqüentam, geralmente, uma escola convencional com currículo comum a sua série e idade. E é, justamente na escola, um dos primeiros espaços de convivência supervisionada, que profissionais experientes vão perceber seu comportamento inadequado.
Assim, repetidas vezes este aluno "problema" vai ser posto em pauta até ser deixado de lado. Será "esquecido" no caso de ser muito quieto ou ao contrário, será retirado do espaço físico comum por provocar conflitos e tumultuar o grupo. De qualquer forma o que se vê é uma tendência a isolá-lo e "tratá-lo" à parte.
A violência escolar é um fenômeno antigo, o termo que designa esse comportamento hoje é que é novo. O termo Bullying designa atitudes agressivas e antisocial no ambiente escolar.
O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Como verbo, significa ameaçar, amedrontar, tiranizar, oprimir, intimidar, maltratar.
O primeiro a relacionar a palavra ao fenômeno foi Dan Olweus, professor da Universidade da Noruega. Ao pesquisar as tendências suicidas entre adolescentes, Olweus descobriu que a maioria desses jovens tinha sofrido algum tipo de ameaça e que, portanto, bullying era um mal a combater.
Os estudos sobre o bullying se iniciaram na década de 70 na Suécia, após investigação da causa do suicídio de 3 crianças que haviam se suicidado na Noruega. Ao investigar a causa descobriu-se que fora por causa de maus tratos de colegas da escola.
O bullying se caracteriza pelo uso da mesma brincadeira , de forma repetitiva, contra a mesma pessoa, com desequilíbrio de poder, sem motivação, e levando a criação de gangs dentro da escola.
Pesquisas da UNESCO indicam que :
40% dos alunos já foram autores ou vitima de agressão
28% dos alunos já foram vitimas de agressão
15% dos alunos já foram agressores
80% dos agressores agem assim como forma de reproduzir as ações que recebem ou que já receberam
O bullying não é a única forma de violência existente na escola
11% dos professores já foram agredidos no espaço da escola
47% dos professores já foram xingados
39% dos alunos faltam a escola por medo
29% dos professores faltam a escola por medo
86% das escolas públicas já sofreram vandalismo
85% dos alunos já se envolveram com brigas na escola
32% dos alunos já se envolveram com drogas na escola
21% dos professores já sofreram ameaças de morte na escola
O bullying expõe a vítima a situações constrangedoras. Causando traumas psicológicas e conseqüências para a saúde física e emocional. Provoca prejuízo na concentração, na motivação para aprender e no rendimento escolar. Provoca também queda da auto-estima e sintomas psicossomáticos. Podendo levar a depressão e até ao suicídio
Como o caso das três crianças da Noruega, quando teve início os estudos desse fenômeno. No caso de uma menina canadense de 14 anos, após o suicídio, foi encontrado um bilhete onde dizia "se eu tentar buscar ajuda, será pior", e de tantos outros.
O bullying também é a causa de tantos desfechos sangrentos em várias escolas, alguns terminando em verdadeiros massacres. Acuado, a vítima de bullying as vezes parte para o revide: O tiroteio na escola Columbine, no Colorado, foi uma tentativa trágica de dois meninos que vinham sendo intimidados pelos colegas; O tiroteio na escola em Minnesota também, matando 9 pessoas e a si próprio; Edmar Aparecido Freitas, de 18 anos, entrou no colégio onde tinha estudado, em Taiúva (SP), e feriu oito pessoas com disparos de um revólver calibre 38. Em seguida, se matou. Obeso, ele havia passado a vida escolar sendo vítima de apelidos humilhantes e alvo de gargalhadas e sussurros pelos corredores; dois adolescentes norte-americanos na escola de Ensino Médio Columbine, no Colorado (EUA), em abril de 1999. Após matar 13 pessoas e deixar dezenas de feridos,também cometeram suicídio quando se viram cercados pela polícia. Os jovens americanos eram ridicularizados pelos colegas; esses entre tantos outros casos que invadem os noticiários praticamente todos os dias.
As vezes, as brincadeiras de mau gosto chegam a extremos, como o caso do garoto de 17 anos que morreu após agressões dos colegas, dando tapas em sua cabeça porque ele tinha cortado o cabelo.
Nos estados unidos muitos casos de massacres em escolas aconteceram por vingança por terem sido maltratados por colegas.
Em 2003 , um jovem entra numa escola, após ter concluído a oitava seria, e atira em varias pessoas, e depois de mata, no interior de são Paulo.
Na Bahia, outro vai ate a casa de seu agressor na escola, e ao bater na porta, o outro sai, e ele lhe dar um tiro na cara.
Em ribeirão preto um aluno agride uma professora na sala de aulas, com socos e pontapés, jogando uma cadeira nela, porque ela o repreendeu por está fazendo bagunça na sala de aula. Procurada, a mãe do aluno diz que realmente o filho anda muito estressado e estourado.
Um professor é agredido por vários alunos por tentar defender uma aluna da agressão de um deles.
Em são Paulo, uma aluna agride outra, jogando gasolina e ateando fogo nela, outra agride colega com uma tesourada no pescoço, e ainda com a ajuda de uma tia, por conta de um esbarrão no corredor. Segundo o pai da aluna queimada, a agressora costuma agredir outras no colégio, e o colégio nunca tomou nenhuma medida.
Numa cidade satélite de Brasília, uma escola foi condenada a indenizar uma criança vítima de bullying.
O bullying é grave para as vítimas, mas também é grave para os agressores, que se não for reprimido a prática, acabam Introjetando o comportamento na própria personalidade, o que leva a delinqüência.
Pesquisas da UNESCO indicam que 60% dos agressores, aos 24 anos, já tinham envolvimento criminal.
O praticante de bullying de hoje pode vir a ser o criminoso de amanha. Aquele que um dia foi vítima de agressão, tende a ser ele mesmo, no futuro, agressor, seja na escola, no trabalho, ou na família.
Segundo o psiquiatra José Geraldo Ballone, algumas crianças envolvidas em situações agressivas não aprenderam as habilidades sociais necessárias e desejáveis para relacionar-se com os demais, não são disciplinados para a consecução de objetivos e não aceitam críticas. Isso muitas vezes reflete um modelo de conduta aprendido no ambiente doméstico.
Em psiquiatria, o mau funcionamento adaptativo se considera sempre como um valioso índice de mau prognóstico. As crianças caracterizadas por hiperatividade, impulsividade, agressividade e também com dificuldades de relacionamento têm maior probabilidade de serem diagnosticadas como portadoras de transtorno de conduta ou depressão.
Segundo James Blair, especialista em psicopatia, do Instituto Nacional de Saúde Mental (EUA), defeitos emocionais repousam no centro de tendências anti-sociais. Diz ele que, sem compreender a dor do outro, muitas não conseguem evitar a crueldade. E que durante a socialização, é crucial aprender que alguma atitudes podem provocar medo ou tristeza em outras pessoas. Só assim aprendemos a evitá-las. Ele diz que essa mecânica de aprendizado parece defeituosa em psicopatas. Se eles querem algo, e dar um soco na cara de alguém parece ser o caminho para conseguir, acabam adotando tal comportamento.
Afirma também Paul Erick, pesquisador da Universidade de Nova Orleans, que esse tipo de violência é típica de crianças com insensibilidade emocional.. Ele estima que cerca de 30% das crianças com comportamento anti-social precoce mostram traços de insensibilidade emocional, e que também têm mais chances de se tornarem violentas na idade adulta.
Outro estudo realizado no Instituto Nacional de Saúde Mental, nos Estados Unidos, mostra que crianças que demonstram atitudes anti-sociais precoce não demonstram nenhum tipo de reação emocional, componente fundamental para o diagnóstico de psicopatia adulta.
Segundo a Dra. Bacy Fleitlich, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, a psiquiatria infantil ainda é encarada por muitos como exclusiva para crianças altamente problemáticas, com deficiências sérias como esquizofrenia ou depressão. "Esses são os problemas mais raros e os últimos na lista de crianças e adolescentes", diz a doutora Bacy Fleitlich, que realizou um estudo que produziu uma estimativa dos transtornos psiquiátricos mais comuns em crianças de 7 a 14 anos.
O transtorno de comportamento foi o problema mais comum, encontrado em 7% das crianças. "Ele consiste em uma série de comportamentos graves o suficiente para que a criança receba um diagnóstico médico", explica Bacy. Esse problema pode ser identificado a partir do momento que essas condutas passam a interferir na sua vida social, na escola e nas relações familiares.
Quando o comportamento da criança começa a prejudicar a sua vida escolar, seus relacionamentos ou o ambiente familiar, talvez seja a hora de considerar uma avaliação por um psiquiatra infantil.
Os transtornos infantis podem evoluir para problemas sérios na vida adulta se não forem tratados. Cerca de 1/3 das crianças com transtornos de comportamento têm risco de evoluir para um transtorno de personalidade anti-social (novo nome dado aos psicopatas).
Segundo o estudo, a desinformação e o preconceito são a principal causa que faz com que crianças com transtornos demorem muito mais do que o necessário para procurar ajuda médica e começarem a se tratar.
O psiquiatra infantil avalia como a criança está em relação ao seu comportamento, suas emoções. E assim como não é necessário esperar que alguém tenha um enfarte para levá-lo ao cardiologista, não é preciso esperar uma criança ser expulsa de três escolas para levá-la para fazer uma avaliação com um psiquiatra infantil", comenta Bacy. Por isso a atenção e preocupação dos pais são importantes. Quando o comportamento da criança começa a prejudicar a sua vida escolar, seus relacionamentos ou o ambiente familiar, talvez seja a hora de considerar uma avaliação por um psiquiatra infantil.
A delinqüência infantil é precursora comum da delinqüência do adolescente e do comportamento criminoso e sociopático do adulto; de fato, o distúrbio de conduta infantil é um pré-requisito a fim de se diagnosticar personalidade anti-social no adulto.
Quando comportamentos agressivos ou anti-sociais tornam-se freqüentes no modo de uma criança lidar com as pessoas com quem convive, deve-se dirigir uma atenção especial a ela. Antes de medidas práticas, é fundamental a consideração do contexto da criança, os fatores possivelmente envolvidos e a compreensão de sua condição psíquica.
A psiquiatria atual denomina de transtorno de conduta o diagnóstico de crianças e adolescentes que apresentam um padrão de persistente agressividade, furtos, vandalismo, fugas de casa e da escola, destruição de propriedade e outros comportamentos designados de anti-sociais, em que são violados os direitos básicos alheios, desviando-se das normas e regras sociais apropriadas a cada faixa etária.
Segundo o sociólogo Renato Sérgio de Lima, da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados, autor do livro Conflitos sociais e criminalidade urbana "A juventude atual nasceu e cresceu numa sociedade pautada pelo consumo exacerbado, pela necessidade do ganho rápido e pela supremacia do prazer individual, acima de qualquer objetivo social ou coletivo. E isso produz e reproduz violência. O respeito ao outro passou a ser descartável, a medida que você satisfaz seus interesses pessoais.
Diz também o psiquiatra Francisco Assumpçao que a juventude de hoje não tem utopias, não tem ídolos, nem heróis, nem ideais. E essas referencias são importantíssimas na formação de paradigmas, acordos morais e valores pessoais. Como conseqüência dessas ausências, a vida perde em significações, os jovens tendem a centrar seus objetivos na satisfação pessoal, sendo presa fácil ao tédio e a frustração.
"O aumento da violência juvenil e do uso de drogas pode ser entendido como maneiras de preencher esse vazio", diz Francisco. Ele acredita que essa geração cresceu exercitando a impunidade com pais, professores, autoridades e, finalmente, com a sociedade, que reforça esse sentimento com exemplos diários de falta de punição:
Apenas 2.2% das penas são cumpridas;
72% dos presos voltam a delinqüir – segundo a secretaria nacional de justiça;
5% da população carcerária é formada por psicopatas;
Restam apenas 23% dos apenados passíveis de recuperação.
A imediatização da vida , estimulada pela mídia, exige meios mais eficientes e rápidos para a aquisição do prazer. E a liberdade, destituída de sua contra-partida, que é a responsabilidade, dá, para pessoas órfãs de princípios éticos, o aval de se poder fazer o que quiser.
A liberdade sexual é, hoje, um tabu onde ninguém ousa tocar, pois o policiamento dessa liberdade é extremamente opressor. Daí decorrem as doenças sexualmente transmissíveis, aumento de adolescentes que engravidam, aborto complicado e letal, medo dos relacionamentos duradouros e coisificação do amor.
As instituições sociais gastam milhões no tratamento da AIDS, orientam e oferecem preservativos gratuitamente, mas não se vê uma palavra sobre valores e preservação da dignidade da pessoa. A televisão mostra cada vez mais cenas de sexo explícito entre pessoas que mal se conhecem, tentando convencer que o facultativo é obrigatório, como um indispensável passaporte para a modernidade.
As crianças e adolescentes reivindicam desde os 11-12 anos direitos dos adultos. Elas sempre têm coleguinhas cujos pais deixam fazer de tudo, permitem tudo e dão tudo e, novamente para não crescerem frustradas ou revoltadas, recebem tudo. Depois que perdem a virgindade, se drogam e chegam em casa bêbadas, os pais se sentem culpados, novamente por terem sido ausentes. Para minimizar a culpa ou continuar furtando-se da árdua tarefa de educar, levam os filhos a psicólogos.
Na maioria das vezes, os pais acabam "colaborando", de uma maneira ou de outra, para que a criança desenvolva condutas agressivas ou anti-sociais, já que dão muita liberdade ou não sabem corrigir e disciplinar os filhos, perdendo assim o controle sobre eles.
Segundo a Junia Vilhena, doutora em psicologia clínica e professora da PUC Rio, Os filhos da contemporaneidade são retrato de pais com medo de serem pais, retrato do lugar que resta vazio, a ser preenchido por algo ou alguém que está fora da família, seja virtualmente, pelos heróis da televisão ou pelos colegas virtuais na internet.
De acordo com reportagem na Revista Veja de fevereiro de 2009, os pais de hoje erram muito por não saberem dizer não. Segundo especialistas em comportamento adolescente, os pais agem como se um não à um comportamento inadequado equivalessem a um castigo físico. Além da fala de cobrança por parte dos pais, que acaba em falta de responsabilidade na vida adulta por parte dos filhos.
Especialistas dizem também que é um erro as intermináveis discussões para fazer os filhos entenderem alguma decisão por parte dos pais, que é um erro o bate boca com um adolescente, porque nunca leva a nada. O ideal é deixá-lo falando sozinho, e conversar quando ele aceitar conversar sem bate-boca.
Segundo reportagem na Revista Isto é de fevereiro de 2009, impor limites para as crianças e adolescentes de hoje é uma tarefa muito difícil, diante da quantidade de estímulos a que os jovens são expostos.
De acordo com Lya Luft, escritora e colunista da Veja, na coluna Ponto de vista,de junho de 2008, pais bonzinhos são tão danosos quanto pais indiferentes.
O psiquiatra Içami Tiba, no livro Adolescentes – quem ama educa, diz que os jovens de hoje não têm preparo para tocar a vida, que um diploma não faz de ninguém um vencedor.
Segundo o psicanalista inglês Charles Melmam, Antes se recorria a psicanálise porque não ousava realizar seus desejos. Hoje, principalmente no caso dos jovens, é por não saber o que desejar. Isso porque nossos jovens foram criados em condições que promovem a busca rápida do prazer máximo e sem obrigações. Muitas vezes para isso recorrendo a marginalidade.
Hoje em dia, até o sexo, que é o que existe de mais íntimo no indivíduo, está muito acessível, levando a uma vida sexual sem compromisso. Esse comportamento cria uma busca imediata e irresponsável do prazer, mas não organiza a existência nem o futuro.
Planta-se na pessoa desde criança um exercício da liberdade sem limites, deixando de lado o ensinamento de que a dignidade desta liberdade reside na responsabilidade, pois o exercício da liberdade deve ser a expressão do respeito de cada pessoa em relação a si mesma e em relação ao seu semelhante.
Segundo uma tendência deteriorante de uma sociedade psicolizante, crianças não podem se frustrar. Se elas se sentirem diferentes de seus pares, se elas não tiverem os bens de consumo de seus coleguinhas, telefone celular, roupas de grife, dinheiro para bares, boates e afins, enfim, se elas não se inserirem totalmente no mundo consumista que visualisam na escola e na mídia, podem ficar frustradas.
As correntes libertárias e irresponsáveisse propagam pela mídia, desde o cinema até programas atuais como os Big Brothers da vida.
Grande número de profissionais dedica-se a entender os adolescentes. Sua função seria plena de êxito se conseguissem fazer esses adolescentes queixosos de que ninguém os entende, entender que, de fato, ninguém tem obrigação de entendê-los. Seria meritosa sua função se convencessem os adolescentes, que vivem se queixando com o velho chavão de não terem pedido para nascer, de que seus pais também não pediram para nascer exatamente eles. Poderiam ter nascido crianças melhores.
Depois de uma geração que tudo permitia aos filhos, agora educar é saber impor limites .
Dizer "não" é um desafio que está além das forças e convicções de muitos pais e mães. Muitos chegam a ter medo de entrar em confronto com os filhos. Não sabem o que pode resultar de um embate. Acontece que muitos pais modernos se tornaram modernos em excesso. A liberdade excessiva, ensina agora um número crescente de psicólogos e pedagogos, produz adultos sem noção de limites e responsabilidades.
Como tudo na vida, impor limites é também uma questão de bom senso. Castigos e reprimendas não têm utilidade alguma se na relação entre pais e filhos também não houver diálogo, compreensão, amor e carinho.
Uma das importantes funções do estabelecimento de limites é para a criança conhecer a frustração e se adaptar à realidade. As frustrações funcionam como estágios de aprendizado, para o enfrentamento dos obstáculos que a vida certamente colocará na vida de cada pessoa.
Quando os pais levados pelo ritmo exaustivo em suas vidas acabam POR COMODIDADE, consentindo que os filhos façam o que quiserem, acabam também criando pessoas sem noção de limites, que não respeitam os direitos dos outros.
Segundo o psicanalista Jorge Forbes, no livro "você quer o que você deseja ?", a nova geração não responde a ética do dever, mas a ética do desejo. Que chamamos de adolescência a fase entre a infância e a idade adulta, época em que a pessoa teria que, progressivamente, adaptar sua forma de ser, em consonância com o mundo dito adulto. Mas que hoje essa divisão esta relativizada as particularidades de cada um, não existindo mais um padrão. E que essa é uma nova forma de ser, onde se deseja sem querer, onde se age apenas por desejo, de maneira inconseqüente.
Jorge Forbes diz também que a geração anterior foi marcada pela regra de que os pais deveriam falar tudo aos filhos e que estes só deveriam cumprir obrigações se as entendessem. Mas que muita coisa que queremos de nossos filhos não será compreendida por eles, e que os pais precisam aprender a ser mais arbitrários.
Charles Melman, psicanalista Frances, diz que hoje a saúde mental já não se origina mais da harmonia com o ideal de cada um, mas do objeto que possa trazer satisfação, que não há mais limites. Que cada um pode satisfazer publicamente suas paixões, contando com o reconhecimento social. Segundo ele, a imprensa e a mídia substituíram as fontes de sabedoria de outrora, daí resultando um indivíduo manipulável. Porque nessa sociedade permissiva todas as figuras de autoridade parecem abusivas, como se não ocupassem mais o seu lugar, até mesmo o lugar do pai na família.
Segundo o psiquiatra Geraldo José Ballone, uma das importantes funções do estabelecimento de limites é para a criança conhecer a frustração e se adaptar à realidade, mas essa tarefa só será possível quando os pais conhecerem a diferença entre "frustração" e "sofrimento". Tal distinção também será necessária para que se ensine à criança as noções de direitos e deveres, principalmente dos deveres. Ensinar a frustração significa ensinar a participar da vida cotidiana, a conviver com as outras pessoas e a superar os conflitos que, inexoravelmente, existirão durante toda a vida.
Segundo o psiquiatra Geraldo José Ballone, não dar liberdade aos filhos pode causar frustração, dar liberdade também, assim como dar tudo o que querem, que dizem também corromper seus futuros ou, ao contrário, não dar o que querem deixa-os revoltados.... Se os pais não se preocupam muito em ganhar dinheiro, preferindo ficar mais tempo em casa enriquecendo a convivência com os filhos e, conseqüentemente, porventura o menino não tenha dinheiro para passar as férias em Búzios com os amigos, também fica revoltado, dizendo que seus pais são perdedores, não souberam ter o sucesso que tiveram os pais dos amiguinhos. Se, por outro lado, os pais batalham na vida para que os filhos tenham dinheiro para passar as férias em Búzios, aí os pais serão ausentes, logo, os filhos são frustrados do mesmo jeito. Afinal, o que eles querem?
A psicoterapeuta inglesa Asha Phillips, afirma que desde os primeiros meses de vida dos bebês os pais devem estabelecer claramente certos limites. "Pais que se recusam a dizer não nos momentos apropriados estão roubando de seus filhos a capacidade de exercitar suas emoções", afirma.
Asha diz que é errado permitir que uma criança faça escândalo no supermercado ou no meio da rua porque se cansou de acompanhar os pais nas compras, está com sono ou deseja uma simples balinha. Da mesma forma, os adolescentes precisam ter horários para chegar em casa e saber respeitar os demais membros da família. "Frustração, raiva, ódio, disputa e privação fazem parte do aprendizado de uma criança tanto quanto o amor, o carinho e o afeto que ela deve receber dos pais".
Somos supostamente os únicos seres no planeta que têm uma vida interior, que os eventos internos são mais importantes que os eventos externos. A maneira como interpretamos esses eventos é que vai determinar como pensamos a respeito de nós mesmos, e como atuaremos no ambiente e com as pessoas com as quais convivemos.
O homem tem cada vez mais conhecimento e controle sobre o mundo ao seu redor, mas se afasta cada vez mais desse seu mundo interior.
Consideramo-nos seres evoluídos, capazes de vivermos em sociedade, construtores de civilizações, mas precisamos de normas externas a nós mesmos para que seja possível a convivência com nosso semelhante. Ensinamos nossos filhos a conhecer e a dominar as forças da natureza, mas não os ensinamos a conhecer e dominar a si mesmos.
O homem conhece cada vez mais o mundo em que vive, mas não o mundo que é. As crianças conhecem cada vez mais o imenso espaço e o pequeno átomo, mas não conhecem a construção da inteligência e o funcionamento da sua própria mente. Esta carência de interiorização educacional faz com que elas percam a melhor oportunidade de desenvolver as funções mais profundas da inteligência: a capacidade de pensar e refletir sobre si mesmas; a capacidade de analisar seus comportamentos;a capacidade de perceber seus limites; a capacidade de autocrítica e de dar respostas mais maduras para as suas frustrações e sofrimentos; a capacidade de compreender a construção das relações humanas e aprender a se colocar no lugar do outro.
Ensinamos nossos jovens a dominar o universo exterior, mas não os ensinamos a dominar o seu mundo interior. O homem tornou-se um estranho para ele mesmo. Os jovens não conhecem seus limites; não aprenderam a pedir perdão; não aprenderam a se colocar no lugar do outro. Não os ensinamos a contemplar o belo, a pensar antes de agir, a perceber que o seu direito termina onde começa o direito do outro; não os ensinamos a lidar com os inevitáveis fracassos nem humildade para reconhecerem seus erros. Transmitimos conhecimento, mas não ensinamos sabedoria.
O aprender, necessariamente, se revela pela modificação de comportamentos. Para que aconteça realmente o aprendizado, não basta apenas a transmissão de um conhecimento, mas sim a construção de habilidades e competências.
Construímos uma sociedade tecnológica e consumista, onde os valoresmais importantessão o ter mais que o outro, o ser mais que o outro. Valores como realização pessoal, harmonia interior, pensamento no coletivo, são coisas que não encontram espaço nessa sociedade tão apressada, tão imediatista, que só fixa seu olhar no aqui e agora.
Todas as formas exteriores de mudança, produzidas pelas guerras, revoluções, reformas, pelas leis e ideologias, falharam completamente, pois não mudaram a natureza básica do homem e, portanto, da sociedade. Apesar de toda evolução tecnológica, científica, jurídica, etc. Nós, humanos, somos os mesmos que éramos há milhões de anos.Psicologicamente, o indivíduo não mudou em nada, e a estrutura da sociedade, em todo o mundo, foi criada por indivíduos. A estrutura social é o resultado da estrutura psicológica, das relações humanas, pois o indivíduo é o resultado da experiência, dos conhecimentos e da conduta do homem.
A civilização tem de utilizar esforços supremos a fim de estabelecer limites para os instintos agressivos do homem. Apesar de todo avanço tecnológico e científico, a única razão pela qual o homem não deve matar o próprio homem é porque Deus proibiu; a única razão pela qual o homem deve olhar para o próprio homem como seu semelhante é para barganhar benécies com Deus, nessa vida ou na vida futura. Isso porque, apesar de todo avanço tecnológico e científico, o homem continua o mesmo de há milhares de anos, precisando de controle externo para poder conter os seus instintos primitivos, e para pautar as suas relações com o outro.
Segundo o psiquiatra Augusto Cury, no livro A pior prisão do mundo, não é possível produzir homens maduros que sabem se conduzir se eles não aprendem a autocrítica, a pensar antes de reagir, a estabelecer limites para seus comportamentos e, principalmente, se não aprendem a desenvolver a sabedoria.






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